quarta-feira, 5 de junho de 2013

É importante compreender que liderar é uma atitude. Vai muito além da mera chefia

“É importante compreender que liderar é uma atitude. Vai muito além da mera chefia”
Assunto: RH
Mario Sergio Cortella
Em entrevista exclusiva ao Assunto:RH, o filósofo Mario Sergio Cortella, um dos grande nomes da educação corporativa no Brasil – e palestrante de destaque da 17° Comrh, - fala sobre engajamento de pessoas, liderança e inspiração, temas que serão abordado em sua palestra no congresso.
Assunto RH: Não existem fórmulas para situações complexas, como engajar e reter pessoas. Entretanto, a oferta de boa remuneração, desenvolvimento profissional e ambiente de trabalho saudável são uma constante quando o tema é engajamento. Essa linha de raciocínio é correta?
MSC: Sim. Bastante correta. Realmente não existem fórmulas, mas existem formas, várias trilhas pelas quais se consegue engajamento. Três pontos são fundamentais.Em primeiro lugar é importante traçar um objetivo, ‘para que fazemos isso?’. Logo em seguida vem a necessidade de saber, de forma clara, qual o papel que cada um exerce na organização. E o terceiro, e mais importante, é o reconhecimento (que diz respeito também ao autoconhecimento, a se reconhecer, se ver).
Não estou falando apenas de reconhecimento financeiro, mas de justeza, de partilha dos méritos, na comemoração das conquistas e na capacidade de elevar o trabalho feito em grupo e não apenas com base na capacidade de um única pessoa. É como dizia Guimarães Rosa ‘É junto dos bão que a gente fica mió’.

ARH: Um empregado motivado é, necessariamente, engajado? Quais são as diferenças?
MSC: Engajar pode ser feito de maneira não voluntária, o que é diferente de motivação, que parte de dentro da pessoa. É interessante fazer uma reflexão sobre a etimologia da palavra ‘engajamento’, que tem também origem na área militar, faz referência a alistamento nas forças armadas, a recrutamento (algo não voluntário, pode vir de uma pressão), embora também o francês “engage” signifique “dar garantia”.
Então é possível fazer com que pessoas se engagem voluntariamente? Sim, é muito possível. E é exatamente isso que vou abordar em minha palestra   no Congresso Mineiro de Recursos Humanos, cujo título será: ‘Engajamento de pessoas: é possível e urgente!’

ARH: As estatísticas apontam que o percentual de profissionais engajados com suas atividades é muito baixo e a falta de uma liderança efetiva é vista como um dos principais fatores que contribuem para esse resultado. O senhor concorda? Por quê?
MSC: Plenamente. Há uma ausência de inspiração por parte dos líderes. É importante compreender que liderar é uma atitude e não um cargo, vai muito além da mera chefia. Ele deve inspirar.Muitos, ao invés de inspirar, acabam por expirar sua equipe, tiram o fôlego dos integrantes e não conseguem uma adesão plena dos empregados. Empresas que se limitam a ter chefias, não terão fôlego no futuro.

ARH: O que seria necessário para reverter esse quadro?
MSC É preciso autodesenvolvimento, formação de lideranças. Universidade corporativas em parceria, por exemplo, com a Fundação Dom Cabral conseguem cumprir esse papel e dão condições aos alunos de se inspirarem. A academia, de forma geral, vem se preparando para isso, mas ainda está no começo, exploram mais as ferramentas técnicas, que são importantes, porém não o suficiente. Trabalhara humildade, a pró-atividade e o espírito de equipe é fundamental.

ARH Engajar pessoas é um termo que ficou bastante popular nas redes sociais e várias empresas estão usando o Facebook e o Linkedin, por exemplo, para que os empregados sejam “embaixadores” da marca. Como fazer isso de forma responsável, ou seja, de modo que o empregado saiba ser embaixador da marca de maneira consciente?
MSC: Ser embaixador de uma causa está totalmente ligado à idéia de  convicção, no lugar da pessoa dentro dessa marca. Ela deve realmente crer nisso, caso contrário, dificilmente iria aderir a esse espaço digital. Já empresas não devem confundir ética com cosmética (mostrando idéias de fachada) Ao criar essa estratégia, a organização deve ter a clara percepção da diferença entre o dito e o feito, é preciso ter autenticidade.

ARH: De acordo com pesquisa recente da Aon Hewitt, empresas que possuem um alto nível de engajamento entre seus funcionários são 78% mais produtivas e 48% mais rentáveis. Apesar desses dados, o senhor acredita que hoje as empresas estão conscientes da importância de terem trabalhadores engajados?
MSC: Algumas empresas já aderiram essa idéia, mas outras não (apesar de acharem que sim). Volto a sugerir a reflexão sobre a origem da palavra engajamento e acredito que, apesar de ‘engajar’ remeter a pressão, as organizações têm condições de gerar um engajamento sincero dos empregados.

E mais uma vez cito Guimarães Rosa: ‘O sapo não pula por boniteza, mas por precisão’. É válido aqui usarmos a mesma lógica nos alertas do cruzamento dos trens ‘pare, olhe e escute’.    

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