segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lançamento em Campinas Professor Mario Sergio Cortella e Terezinha Rios


Prof. Mario Cortella recebe Cidadania Benemérita

Prof. Mario Cortella recebe Cidadania Benemérita



do site da câmara

A Câmara de Vereadores realiza hoje, as 19h, a sessão solene para entrega do Título de Cidadão Benemérito de Londrina ao filósofo, mestre e doutor em Educação Mario Sergio Cortella, professor durante 35 anos (1977/2012) da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e ex-secretário de Educação da cidade de São Paulo.

A iniciativa da homenagem foi do presidente da Câmara de Vereadores, vereador Professor Rony (PTB) e contou com o apoio de parlamentares da Legislatura anterior. O projeto 73/2012 foi sancionado e transformou-se na Lei nº 11.603/2012. Mario Sergio Cortella nasceu em Londrina (PR), em 5 de março de 1954. Dos 18 aos 20 anos estudou e morou no Convento da Ordem Carmelita Descalça, em São Paulo.

Graduou-se em Filosofia pela PUC-SP e logo em seguida assumiu o cargo de Professor de Teologia e Ciência da Religião da mesma universidade, onde também foi professor do Departamento de Fundamentos da Educação. Também na PUC-SP concluiu o Mestrado e o Doutorado em Educação. É professor convidado da Fundação Dom Cabral (desde 1997) e ensinou no Gvpec da FGV (1998/2010).

O filósofo foi Assessor Especial e Chefe de Gabinete do professor Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1990) e secretário da pasta no Governo Luiza Erundina (1991- 1992). Atuou como comentarista em diversos telejornais e emissoras de rádio da capital paulista, além de colunista da Folha de São Paulo no período de 2000 a 2004. Considerado um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade, Cortella integrou o Conselho Técnico Científico de Educação Básica da CAPES/MEC de 2008 a 2001.

Em razão do eu vasto conhecimento acerca da doutrina da Igreja Católica foi comentarista convidado da Rede Globo para analisar os recentes episódios da renúncia do Papa Bento XVI e da eleição do Papa Francisco. Obras - É autor, entre outras obras, de A Escola e o Conhecimento (Cortez), Nos Labirintos da Moral, com Yves de La Taille (Papirus), Não Espere Pelo Epitáfio: Provocações Filosóficas (Vozes), Não Nascemos Prontos! (Vozes), Sobre a Esperança: Diálogo, com Frei Betto (Papirus), O que é a Pergunta?, com Silmara Casadei (Cortez), Liderança em Foco, com Eugênio Mussak (Papirus), Filosofia e Ensino Médio: certas razões, alguns senões, uma proposta (Vozes), Viver em Paz para Morrer em Paz: Paixão, Sentido e Felicidade (Versar/Saraiva), Política: Para Não Ser Idiota, com Renato Janine Ribeiro (Papirus), Vida e Carreira: um equilíbrio possível?, com Pedro Mandelli (Papirus), Educação e Esperança: sete reflexões breves para recusar o biocídio (PoliSaber), Escola e Preconceito: Docência, Discência e Decência, com Janete Leão Ferraz (Ática), Não Se Desespere! (Vozes) e Qual é a tua Obra? Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética (Vozes).

Logo após a sessão solene na Câmara de Vereadores, Mario Sergio Cortella vai coordenar palestra sobre o tema “Da oportunidade ao êxito: Mudar é complicado? Acomodar-se é perecer!”, dirigida a diretores e professores das redes públicas e privada de ensino, promovida pela Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional, presidida pelo deputado federal Alex Canzinai (PTB). As inscrições para a palestra estão esgotadas.
http://aquitemjovem.blogspot.com.br/2013/05/prof-mario-cortella-recebe-cidadania.html

Mario Cortella, um pensador londrinense

http://www.jornaldelondrina.com.br/cultura/conteudo.phtml?id=1374059

Mario Cortella, um pensador londrinense

Considerado um dos principais filósofos do país, ele estimula o pensamento a partir de questões simples do cotidiano, como um sanduíche natural

20/05/2013 | 00:15 Fábio Luporini/JORNAL DE LONDRINA

A culpa de a filosofia ter entrado na vida de Mario Sergio Cortella é da hepatite que, quando criança, contraiu em Londrina. Por causa do escasso tratamento da doença, o garoto com 7 anos precisou se ausentar das aulas no então Grupo Escolar Hugo Simas para ficar em repouso absoluto. Em casa, ouviu rádio, leu gibis e tomou emprestado dos vizinhos autores como Dostoiévski, Cervantes, João Cabral de Melo Neto e tantos outros livros de filosofia. Quando fez 17 anos, entrou na ordem Carmelita Descalça, onde ficou três anos em clausura. Leu muito. Saindo de lá, virou professor e filósofo. Cortella, nascido em terra roxa, veio à Londrina na semana passada, quando recebeu o título de Cidadão Benemérito. O tempo de leitura na ordem carmelita deu ao filósofo uma bagagem cultural que o alçou à condição de professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) por 36 anos, além de assessor especial e chefe de gabinete de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo entre 1989 e 1990, além de secretário da pasta no governo de Luiza Erundina, entre 1991-1992. Hoje, o londrinense é considerado um dos maiores pensadores brasileiros.

Pouco antes da palestra no auditório da PUC, Cortella recebeu o JL para uma entrevista.

Gilberto Abelha/JL


Você morou em Londrina até os 13 anos...
Mario Cortella – Nasci em Londrina em 1954. Meus pais eram paulistas. Pai gerente de banco e mãe professora. Vieram de Santa Cruz do Rio Pardo, Ourinhos e Bauru. Vieram pra cá quando o Norte do Paraná estava em expansão. Tanto que meu pai veio para abrir várias agências de bancos em cidades como Londrina, Marialva, Maringá, Astorga, Apucarana, Jandaia. Eu aqui nasci.

Esse momento da sua vida foi importante por que? Porque nesses 13 anos em Londrina eu criei raízes numa comunidade que era pequena. Quando me mudei daqui, em dezembro de 1967, Londrina tinha 60 mil habitantes. Era considerada um centro de referência na região. Mas era uma cidade que hoje se entenderia como pequena, perto de outras. A proximidade com a comunidade trouxe grandes vínculos de amizade. A minha escolaridade se deu aqui. Fiz o primário no grupo Hugo Simas. Depois fiz o início do fundamental, antigo ginásio, no Colégio Aplicação. Minha diretora foi dona Célia Gonçalves Dias, viúva do Vitorino Gonçalves Dias. Naquela formação tive a capacidade de viver numa cidade onde a gente ia aos eventos na Concha Acústica, onde a gente ia ver a fanfarra do Marista, que era uma coisa maravilhosa. A gente ia ao teatro, às vezes. A primeira peça que eu vi era num teatro que ficava na Rua Goiás, onde hoje é um prédio. Assisti O rapto das cebolinhas. Tive um gosto imenso um dia na vida porque em 1984 fui fazer conferências no Japão. Quando eu estava em Tóquio, eles fizeram uma peça teatral e foi exatamente O rapto das cebolinhas. Meu primeiro cinema foi o Ouro Verde. Depois foi o Cine Joia, de cinema japonês. Até hoje tenho uma apreciação por cinema japonês. Viver em Londrina, que juntava mineiro, paulista e italiano, além de japoneses e árabes, significa uma formação mais cosmopolita.

Como você chegou à filosofia?
Por uma coisa acidental. Aconteceu em Londrina, em 1960. Eu estava fazendo 6 para 7 anos de idade, no primeiro ano do Hugo Simas. E tive hepatite. Fiquei três meses e meio sem sair da cama porque não havia medicamento suficiente naquela época. Repouso absoluto. E não havia televisão em Londrina. O que faz um menino de 7 anos de idade? Num primeiro momento eu participava de programas de rádio. Ficava ligando pra Rádio Paiquerê, pra Rádio Alvorada, pra Rádio Clube. Segundo, lia jornal. Mas ele acabava logo. Na primeira semana eu lia os gibis, as revistas em quadrinhos. Depois os vizinhos trouxeram tudo o que tinham: Dostoiévski, Cervantes, João Cabral de Melo Neto e livros de filosofia. E aos 7 anos comecei a ler sem entender. Depois eu quis entender o que era lido. E o campo da filosofia acabou entrando no meu circuito de vida. Aos 17 anos de idade quis fazer uma experiência religiosa mais intensa. A minha formação é católica, fui da Cruzada Eucarística em Londrina, fui crismado por Dom Geraldo Fernandes, fazia parte das atividades da Matriz. E entrei numa ordem religiosa chamada Carmelita Descalça. Vivi na clausura por três anos. Fui estudando filosofia. Depois percebi que a experiência estava completa e pra mim não era a sequência que eu queria ter dentro do clero. Saí direto para a docência na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), em 1977, aos 21 anos, onde fiquei por 36 anos.

Como traduzir a filosofia para os jovens e adolescentes?
A gente precisa criar pontes. O autor mais jovem que eu trabalho em filosofia morreu há 2,5 mil anos. Para que eu possa trabalhar com esses meninos eu tenho que interessá-los em algo que está ligado ao agora. Posso perguntar para ele por que existe alguma coisa e não o nada. Isto é, qual a razão de ser das coisas? Ou discutir o cinismo das escolas de Diógenes ouvindo Lady Gaga. Ou construindo com alguma coisa ligada a Rolling Stones. Dou um curso inteiro fazendo uma pergunta do ponto de partida: existe sanduíche natural? Oferece a natureza um sanduíche ou ele é um produto cultural? Se ele é um produto da obra humana, vamos trabalhar os pensadores que trabalharam a diferença entre natureza e cultura. Assim posso ir a Nietzsche, a Kant. Parte-se do agora para se chegar onde é necessário chegar. Eu não fico onde estou, pois não é uma filosofia do cotidiano. É uma filosofia que parte do cotidiano para chegar à história e tradição.

 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mario Sergio Cortella: não adie seu encontro com a espiritualidade


http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/mario-sergio-cortella-nao-adie-seu-encontro-espiritualidade-521429.shtml

Mario Sergio Cortella: não adie seu encontro com a espiritualidade

 Na juventude, o filósofo Mario Sergio Cortella experimentou a vida monástica em um convento da Ordem Carmelitana Descalça. Durante três anos, aprendeu a viver em comunidade, a não ter propriedades, a guardar silêncio. Abandonou a perspectiva de ser monge – mas não a espiritualidade – para seguir a carreira acadêmica. Hoje, com 55 anos, é professor universitário de educação, conferencista em instituições públicas, empresas e ONGs, comentarista em vários órgãos da mídia e autor de 10 livros, que prefere chamar de “provocações filosóficas”

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José Tadeu Arantes
Revista Claudia – 12/2009
Sempre é tempo de balanço, de rever trajetórias, de refazer escolhas. Fim de ano nos chama especialmente para isso. Em meio à correria das compras, dos encontros, dos comes e bebes, conseguimos um intervalo para a reflexão? Para nos perguntar: afinal, o que estamos fazendo nesta vida? O filósofo Mario Sergio Cortella tem levado esse tema a vários ambientes. Professor da Pontifícia Universidade Católica e da Fundação Getulio Vargas, ambas em São Paulo, e da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte, ele foi discípulo do educador Paulo Freire e atuou como secretário municipal de Educação de São Paulo. "Minha pretensão não é dar respostas, mas elementos para as pessoas formularem melhor suas perguntas", disse no início da entrevista.

Em época de Natal, a sensação é de que há algo a mais na atmosfera. Para uns, é encantamento, elevação. Para outros, apenas nervosismo, que se traduz em febre de consumo, excessos alimentares e conflitos interpessoais. Existe lugar para a espiritualidade em meio a tanta agitação?
Em algumas situações, aquilo que chamamos de espírito de Natal" é algo cínico, que agrega os indivíduos em torno de festividades de conveniência. Mas há muitas pessoas que, independentemente de serem cristãs ou não, têm, nesta época do ano, uma verdadeira experiência do "comemorar". Gosto dessa palavra porque "comemorar" significa "lembrar junto". E do que nós lembramos? De que estamos vivos, partilhamos a vida, de que a vida não pode ser desertificada.

Há uma pulsão de vida.
Claro que, a todo instante, está colocada também a possibilidade de que a vida cesse. Somos o único animal que sabe que um dia vai morrer. Aquele gato, que dorme ali, vive cada dia como se fosse o único. Nós vivemos cada dia como se fosse o último. Isso significa que você e eu, como humanos, deveríamos ter a tentação de não desperdiçar a vida. Escrevi um livro chamado Qual É a Tua Obra?, que começa com uma frase de Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico no século 19. Ele disse: "A vida é muito curta para ser pequena".

Como não apequenar a vida?
Dando-lhe sentido. A espiritualidade ou religiosidade é uma das maneiras de fazê-lo. A religiosidade, não necessariamente a religião. Religiosidade que se manifesta como convivência, fraternidade, partilha, agradecimento, homenagem a uma vida que explode de beleza. Isso não significa viver sem dificuldades, problemas, atribulações. Mas, sim, que, apesar disso tudo, vale a pena viver. Meu livro Viver em Paz para Morrer em Paz parte de uma pergunta: "Se você não existisse, que falta faria?" Eu quero fazer falta. Não quero ser esquecido.

Fale mais da diferença entre religiosidade e religião.
Religiosidade é uma manifestação da sacralidade da existência, uma vibração da amorosidade da vida. E também o sentimento que temos da nossa conexão com esse mistério, com essa dádiva. Algumas pessoas canalizam a religiosidade para uma forma institucionalizada, com ritos, livros - a isso se chama "religião". Mas há muita gente com intensa religiosidade que não tem religião. Aliás, em minha trajetória, jamais conheci alguém que não tivesse alguma religiosidade. Digo mais: nunca houve registro na história humana da ausência de religiosidade. Todos os primeiros sinais de humanidade que encontramos estão ligados à religiosidade e à ideia de nossa vinculação com uma obra maior, da qual faríamos parte.

De onde vem essa ideia?
Existe uma grande questão que é trabalhada pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião. A pergunta mais estridente: "Por que as coisas existem? Por que existimos? Qual é o sentido da existência?" Para essa pergunta, há quatro grandes caminhos de reposta: o da ciência, o da arte, o da filosofia e o da religião. De maneira geral, a ciência busca os comos". A arte, a filosofia e a religião buscam os "porquês", o sentido. A arte, a filosofia e a religião são uma recusa à ideia de que sejamos apenas o resultado da junção casual de átomos, de que sejamos apenas uma unidade de carbono e de que estejamos aqui só de passagem. Como milhões de pessoas no passado e no presente, acho que seria muito fútil se assim fosse. Eu me recuso a ser apenas algo que passa. Eu desejo que exista entre mim e o resto da vibração da vida uma conexão. Essa conexão é exatamente a construção do sentido: eu existo para fazer a existência vibrar. E ela vibra em mim, no outro, na natureza, na história.

Vida e carreira: um equilíbrio possível? (Mário Sérgio Cortella)

Gosto demais do que um dia escreveu o britânico Beda, o Venerável, lá no século VIII: “Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe; não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora”.
Por isso, uma carreira a ser “turbinada” exige a capacidade de “ensinar o que se sabe”, isto é, ter permeabilidade e ser reconhecido como alguém que reparte competências, de modo a fortalecer a equipe e demonstrar ambição (querer mais) em vez de ganância (querer só para si, a qualquer custo).
É necessário também “praticar o que se ensina”, de forma a deixar clara a coerência de postura, o equilíbrio entre o dito e o feito, e a disposição para assumir com segurança aquilo que adota como correto.
Por fim, o mais importante, “perguntar o que se ignora”, pois corre perigo aquele ou aquela que não demonstrar que está sempre em estado de atenção (em vez de estado de tensão) para ampliar capacidades e assumir a humildade (sem subserviência) de compreender e viver aquilo que Sócrates, na Grécia clássica, nos advertiu: “só sei que nada sei”, ou seja, só sei que nada sei por inteiro, só sei que nada sei que só eu saiba, só sei que nada sei que não possa ainda vir a saber.
Afinal, os projetos e metas em qualquer organização são apenas um horizonte que funciona especialmente para sinalizar quais são as possibilidades e limites de progressão; no entanto, horizontes não são obstáculos e sim fronteiras.
Performance e “fazer” carreira exige atitude e iniciativa e, por isso, é um “fazer” em vez de ser um “receber”. Construir o equilíbrio das intenções com as condições é prioritário, sempre lembrando que o equilíbrio precisa ser em movimento (como na bicicleta), sem conformar-se com o sedutor e falso equilíbrio que se imagina atingir ao se ficar imóvel.
Em 2007, a Brasilprev pediu-me uma pequena reflexão sobre equilíbrio na vida pessoal e profissional; eu o chamei de “Ô balancê, balancê…”. e agora aqui o retomo.
Balancê? Por incrível que pareça esse termo francês significa, na dança, ficar apenas alternando um pé com o outro, mexendo o corpo para lá e para cá, mas, sem sair do lugar. Quando, em 1936, Braguinha e Alberto Ribeiro compuseram essa marchinha de carnaval, não poderiam supor que mais de 70 anos depois alguns de nós usaríamos a última estrofe como uma lamentação estagnante do desequilíbrio entre vida profissional e vida pessoal: “Eu levo a vida pensando / Pensando só em você / E o tempo passa e eu vou me acabando / No balancê, balancê”.
“Acho que estou precisando colocar as coisas na balança e ver como consigo lidar melhor com a minha vida no trabalho e a minha vida particular.” Tem ouvido muito isso? Tem pensado muito nisso? Ainda bem; é sinal de sanidade. Qualquer perturbação que abale a integridade e autenticidade do que se vive é perniciosa. Todas as vezes nas quais se tem a sensação de se ser “dois”, isto é, de existir de forma dividida, desponta o perigo de se ter de escolher um entre ambos e relegar o outro.
A questão vital não é dividir-se, mas, isso sim, repartir-se. Pode parecer óbvio: quando se divide, há uma diminuição; quando se reparte, há uma multiplicação. Em outras palavras: se me divido entre duas atividades, vem sofrimento; se me reparto, vem equilíbrio.
Não por acaso, a palavra “equilíbrio” está ligada à ideia de pesar, avaliar, aferir e, portanto, colocar na balança. A expressão latina “aequilibrium” tem a sua origem em equ (igual) e libra (balança).
Balancear as dimensões vitais favorece uma mente sadia; afinal, a vida profissional é parte da vida pessoal, e não toda ela.  Não deve pesar mais, nem menos. Terá a gravidade (em múltiplos sentidos) que for obtida pelo honesto valor que a ela for atribuído.
O que não dá é ficar só balançando sem sair do lugar; harmonia é construção planejada e persistente, em vez de pura espera.
Para que harmonia, então?
Como um dia desenvolvi no meu livro Qual é a Tua Obra? (Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética) publicado pela editora Vozes:  Cuidado, a vida é muito curta para ser pequena. É preciso engrandecê-la.
E, para isso, é preciso tomar cuidado com duas coisas: a primeira é que tem muita gente que cuida demais do urgente e deixa de lado o importante. Cuida da carreira, do dinheiro, do patrimônio, mas deixa o importante de lado. Depois não dá tempo. A segunda grande questão é gente que se preocupa muito com o fundamental e deixa o essencial de lado.
O essencial é tudo aquilo que não pode não ser: amizade, fraternidade, solidariedade, sexualidade, religiosidade, lealdade, integridade, liberdade, felicidade. Isso é essencial.
Fundamental é tudo aquilo que te ajuda a chegar ao essencial. Fundamental é a tua ferramenta, como uma escada. Uma escada é algo que me ajuda a chegar a algum lugar. Ninguém tem uma escada para ficar nela. Dinheiro não é essencial. Dinheiro é fundamental. Sem ele, você tem problema, mas ele, em si, não resolve. Emprego é fundamental, carreira é fundamental.
O essencial é o que não pode não ser. Essencial é aquilo que faz com que a vida não se apequene. Que faz com que a gente seja capaz de transbordar.
Repartir vida. Repartir o essencial, a amizade, a amorosidade, a fraternidade, a lealdade. Repartir a capacidade de ter esperança e, para isso, ter coragem.
Coragem não é a ausência de medo. Coragem é a capacidade de enfrentar o medo. O medo, assim como a dor, é um mecanismo de proteção que a natureza coloca para nós. Se você e eu não tivermos medo nem dor, ficamos muito vulneráveis. Porque a dor é um alerta e a dor nos prepara. É preciso coragem para que a nossa obra não se apequene. E, para isso, precisamos ter esperança.
E, como dizia o grande Paulo Freire, “tem de ser esperança do verbo esperançar”. Tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que dê certo, espero que resolva, espero que funcione.” Isso não é esperança.
Esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. Esperançar é achar, de fato, que a vida é muito curta para ser pequena. E precisamos pensar se estamos nos dedicando ao importante em vez de ao urgente.
Tem gente que diz: “Ah, mas eu não tenho tempo”. Atenção: tempo é uma questão de prioridade, de escolha. Quando eu digo que não tenho tempo para isso, estou dizendo que isso não é importante para mim. Cuidado, você já viu infartado que não tem tempo? Se ele sobreviver, ele arruma um tempo. O médico dizia “você não pode fazer isso, tem de andar todo os dias”. Se ele infartar e sobreviver, no outro dia você vai vê-lo, às 6 horas da manhã, andando. Se ele tinha tempo, que ele teve de arrumar agora, por que não fez isso antes? Você tem tempo? Se não tem, crie. Talvez precisemos rever as nossas prioridades.
Será que estamos cuidando do urgente e deixando o importante de lado? Será que não estamos atrás do fundamental, em vez de ir em busca do essencial?


Fonte: Portal HSM

O Novo Gestor de Pessoas Precisa ser um maestro

O Novo Gestor de Pessoas
Precisa ser  um maestro

Um dos mais renomados pensadores brasileiros na área de gestão de pessoas, Mario Sergio Cortella é professor, escritor e filósofo, atuando ainda como palestrante e consultor para empresas que buscam uma melhor inserção no complexo mundo em que vivemos. Segundo ele, que acabou de lançar mais um livro, “Vida e Carreira: um Equilíbrio Possível?” em parceria com o consultor Pedro Mandelli, o novo gestor de pessoas é aquele que, mais do que administrar gente, consegue atuar como um maestro da pluralidade organizacional:
“Ao reconhecer e dar vazão à pluralidade na organização, o gestor de pessoas consegue fazer com que as pessoas se elevem e alcancem os objetivos da organização. Um gestor de pessoas exerce a liderança não com exclusividade, mas como desenvolvedor das competências das pessoas”, explica Cortella.
Nesse sentido, assinala o consultor, as empresas precisam superar o mito de que o bom líder ou gestor trata a todos “da mesma forma”. As pessoas são diferentes, têm necessidades diferentes e buscam coisas diferentes na vida, daí porque o gestor precisa de uma sensibilidade especial no sentido de detectar as diferenças entre as pessoas:
“Esse gestor cada vez mais necessário nas empresas desenvolve atividades gerenciais, mas não apenas isso; pratica ações pedagógicas, mas não somente isso; é um verdadeiro coaching, mas não se limita a isso. O bom gestor de pessoas desenvolve um conjunto de práticas que faz com que a gestão de pessoas seja um diferencial competitivo nas boas organizações”, lembra Cortella.
Para o professor, ao final das contas, a grande missão de um bom gestor de pessoas é o manejo do estoque de conhecimento de uma organização:
‘Cada colaborador tem um determinado tipo de conhecimento, que tanto pode ser tácito quanto explícito. Poucas empresas sabem que esse conhecimento é o seu maior ativo, pois ele não é commodity. Afinal, processos, equipamentos, aplicativos e insumos, tudo isso pode ser copiado e imitado. Mas o conhecimento que uma organização detém é o seu grande diferencial”, explica Cortella.
Nesse sentido, um gestor de pessoas da modernidade não pode cair na armadilha de entender as pessoas apenas como “recursos” humanos. Mais que isso, o gestor de pessoas, lembra Cortella, é um gestor de talentos e promove  o desenvolvimento das pessoas:
“Os profissionais de RH estão descobrindo que uma das medidas do conhecimento de uma organização é justamente a capacidade que a empresa tem de integrar  as inteligências individuais em uma grande inteligência comum, o que só é possível se as pessoas se engajarem de modo voluntário na construção desse fenômeno e tiverem as condições para isso” alerta Cortella.
 Segundo o pensador, embora esse seja um fenômeno comum no Brasil, os gestores de pessoas, estejam ou não em RH, precisam compreender que as questões de liderança remetem ao uso do poder  
Na organização. Ele lembra que a melhor definição para “poder” é a de “servir” os outros. Se o gestor de pessoas credita que o poder que ele acumula é para ser usado em benefício próprio, a equipe, a equipe, os colaboradores e a empresa vão sofrer:
“Quem usa o poder para se servir, não serve”, sentencia Cortella, assinalando que, por ser um serviço, o poder precisa ser entendido e aceito pelo coletivo, o que implica, antes de mais nada, em um amplo processo de negociação que nunca pode se limitar à imposição da vontade de uma ou outra pessoa.
Para o autor, o bom gestor de pessoas já compreendeu que a melhor regra em uma organização não é aquela que diz: “cada um por si e Deus por todos”, mas, antes, “ um por todos e todos por um”:
“A visão feitoral, do feitor, oriunda da escravidão, começou a ser superada no Brasil há 30 anos. Isso mostra que a formação de gestores de pessoas com perfil diferenciado, mais aberto, democrático, predisposto a ouvir o outro, é coisa relativamente recente. Além disso, herdamos o modelo de gestão americano, baseado no fordismo. Mas essa percepção começou a ser rompida porque o modelo se exauriu, todos sabem que ele leva ao stress. Temas como respeito no trabalho, qualidade de vida, começaram a ganhar prevalência e passaram a exigir uma nova visão da gestão de pessoas, o que nos leva a perceber que o novo gestor de pessoas está em processo de construção”, assinala Cortella.
Mais do que capataz, o novo gestor de pessoas é uma espécie de “mestre de obras”, alguém que coordena as atividades de determinadas pessoas visando à construção de um bem maior. Os mestre têm domínio sobre determinado tema e fazem com que o coletivo caminhe em uma única direção, visando um único objetivo. Para Cortella, construir esse tipo de gestor não é fácil, é um processo longo, que vai exigir mudanças culturais.
Pensar igual – Muitos gestores acreditam que a unidade de direção se consegue a partir do momento em que todos pensam da mesma forma. Cortella assinala que essa visão é perigosa, pois se todos pensam da mesma forma, a equipe pode estar deixando de ver coisas importantes que só os diferentes conseguem enxergar:
“A melhor frase que define essa situação é: “aqui pensamos todos de forma diferente, mas agimos em conjunto”. Em outras palavras, a regra mais importante é diversidade na reflexão e unidade na ação. Pois é somente a diversidade de reflexão, em um mundo cada vez mais complexo, que nos conduz  às mudanças de rumo que os mercados competitivos cada vez mais demandam”, conclui Cortella.

Publicação da ABTD/PR, ANO II

Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento do Paraná. Abril 2012. 

É importante compreender que liderar é uma atitude. Vai muito além da mera chefia

“É importante compreender que liderar é uma atitude. Vai muito além da mera chefia”
Assunto: RH
Mario Sergio Cortella
Em entrevista exclusiva ao Assunto:RH, o filósofo Mario Sergio Cortella, um dos grande nomes da educação corporativa no Brasil – e palestrante de destaque da 17° Comrh, - fala sobre engajamento de pessoas, liderança e inspiração, temas que serão abordado em sua palestra no congresso.
Assunto RH: Não existem fórmulas para situações complexas, como engajar e reter pessoas. Entretanto, a oferta de boa remuneração, desenvolvimento profissional e ambiente de trabalho saudável são uma constante quando o tema é engajamento. Essa linha de raciocínio é correta?
MSC: Sim. Bastante correta. Realmente não existem fórmulas, mas existem formas, várias trilhas pelas quais se consegue engajamento. Três pontos são fundamentais.Em primeiro lugar é importante traçar um objetivo, ‘para que fazemos isso?’. Logo em seguida vem a necessidade de saber, de forma clara, qual o papel que cada um exerce na organização. E o terceiro, e mais importante, é o reconhecimento (que diz respeito também ao autoconhecimento, a se reconhecer, se ver).
Não estou falando apenas de reconhecimento financeiro, mas de justeza, de partilha dos méritos, na comemoração das conquistas e na capacidade de elevar o trabalho feito em grupo e não apenas com base na capacidade de um única pessoa. É como dizia Guimarães Rosa ‘É junto dos bão que a gente fica mió’.

ARH: Um empregado motivado é, necessariamente, engajado? Quais são as diferenças?
MSC: Engajar pode ser feito de maneira não voluntária, o que é diferente de motivação, que parte de dentro da pessoa. É interessante fazer uma reflexão sobre a etimologia da palavra ‘engajamento’, que tem também origem na área militar, faz referência a alistamento nas forças armadas, a recrutamento (algo não voluntário, pode vir de uma pressão), embora também o francês “engage” signifique “dar garantia”.
Então é possível fazer com que pessoas se engagem voluntariamente? Sim, é muito possível. E é exatamente isso que vou abordar em minha palestra   no Congresso Mineiro de Recursos Humanos, cujo título será: ‘Engajamento de pessoas: é possível e urgente!’

ARH: As estatísticas apontam que o percentual de profissionais engajados com suas atividades é muito baixo e a falta de uma liderança efetiva é vista como um dos principais fatores que contribuem para esse resultado. O senhor concorda? Por quê?
MSC: Plenamente. Há uma ausência de inspiração por parte dos líderes. É importante compreender que liderar é uma atitude e não um cargo, vai muito além da mera chefia. Ele deve inspirar.Muitos, ao invés de inspirar, acabam por expirar sua equipe, tiram o fôlego dos integrantes e não conseguem uma adesão plena dos empregados. Empresas que se limitam a ter chefias, não terão fôlego no futuro.

ARH: O que seria necessário para reverter esse quadro?
MSC É preciso autodesenvolvimento, formação de lideranças. Universidade corporativas em parceria, por exemplo, com a Fundação Dom Cabral conseguem cumprir esse papel e dão condições aos alunos de se inspirarem. A academia, de forma geral, vem se preparando para isso, mas ainda está no começo, exploram mais as ferramentas técnicas, que são importantes, porém não o suficiente. Trabalhara humildade, a pró-atividade e o espírito de equipe é fundamental.

ARH Engajar pessoas é um termo que ficou bastante popular nas redes sociais e várias empresas estão usando o Facebook e o Linkedin, por exemplo, para que os empregados sejam “embaixadores” da marca. Como fazer isso de forma responsável, ou seja, de modo que o empregado saiba ser embaixador da marca de maneira consciente?
MSC: Ser embaixador de uma causa está totalmente ligado à idéia de  convicção, no lugar da pessoa dentro dessa marca. Ela deve realmente crer nisso, caso contrário, dificilmente iria aderir a esse espaço digital. Já empresas não devem confundir ética com cosmética (mostrando idéias de fachada) Ao criar essa estratégia, a organização deve ter a clara percepção da diferença entre o dito e o feito, é preciso ter autenticidade.

ARH: De acordo com pesquisa recente da Aon Hewitt, empresas que possuem um alto nível de engajamento entre seus funcionários são 78% mais produtivas e 48% mais rentáveis. Apesar desses dados, o senhor acredita que hoje as empresas estão conscientes da importância de terem trabalhadores engajados?
MSC: Algumas empresas já aderiram essa idéia, mas outras não (apesar de acharem que sim). Volto a sugerir a reflexão sobre a origem da palavra engajamento e acredito que, apesar de ‘engajar’ remeter a pressão, as organizações têm condições de gerar um engajamento sincero dos empregados.

E mais uma vez cito Guimarães Rosa: ‘O sapo não pula por boniteza, mas por precisão’. É válido aqui usarmos a mesma lógica nos alertas do cruzamento dos trens ‘pare, olhe e escute’.    

Entrevista Mario Sergio Cortella

http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0138.asp