quarta-feira, 3 de abril de 2013

Maior representatividade latina na Igreja Católica

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1245832-especialista-espera-maior-representatividade-latina-na-igreja-catolica.shtml

14/03/2013-17h49

Especialista espera maior representatividade latina na Igreja Católica

GABRIELA BAZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Anunciada na tarde da última quarta-feira, a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio surpreendeu especialistas, casas de apostas e muitos fiéis.

Primeiro latino-americano a ocupar o cargo mais alto da Igreja Católica, Bergoglio, segundo o filósofo Mario Sergio Cortella, representa um "revigoramento da estrutura da igreja".

Cortella acredita que o agora papa Francisco vai corrigir um "desvio histórico": a baixa representatividade dos latino-americanos no Colégio dos Cardeais.

"Com todo respeito ao mundo italiano, é um contrassenso que a Itália tenha 27 cardeais e o Brasil, 9. Não é problema de disputa pelo poder, mas de representatividade."

O filósofo espera que o papa reinvente sua relação com a América Latina "ou com lugares onde há maior número de católicos, quebrando uma lógica eurocêntrica".

Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, a eleição de um latino-americano representa uma ruptura do padrão europeu predominante na Santa Sé.

De acordo com o padre José Oscar Beozzo, coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, a eleição de Bergoglio é também "o reconhecimento de que a geopolítica e a geografia do catolicismo mudaram".

"Há um reconhecimento que, independente de como vai se desenvolver, marca uma escolha por 'deseuropeizar' o catolicismo."

Para Beozzo, a eleição do papa Francisco é uma virada histórica. "Isso já estava atravessado na garganta de todo mundo, ainda mais com a opção de Bento 16 em focar investimentos na Europa".

CARREIRA

Cortella também aponta para o fato de que Bergoglio não fez uma carreira interna no Vaticano e, portanto, "não está atrelado às estruturas e aos compromissos internos como gestão, atividades financeiras e bancárias".

Eventuais dificuldades que o novo papa poderá enfrentar por não ter construído sua carreira na Santa Sé, segundo Cortella, poderão ser contornadas com a escolha do novo Secretário de Estado.

"O fato de o novo papa ser latino-americano não significa que ele não possa escolher um europeu como Secretário. Qualquer um teria essa dificuldade. João Paulo 2º também não tinha tanta presença no Vaticano e, se há um papa que soube lidar a dominar a condição do Vaticano, foi o João Paulo 2º".

INEDITISMO

O papa eleito nesta quarta vai se chamar Francisco, nome até então nunca adotado por um pontífice. Para Cortella, a escolha do nome do novo papa traz consigo uma "mensagem simbólica muito forte".

Segundo Beozzo, a escolha do nome representa uma posição mais "radical" e em favor dos mais pobres e fez com que o novo papa "ganhasse a Itália" -- São Francisco de Assis é um dos padroeiros do país.

Beozzo também aponta semelhanças entre o santo --que se dedicou aos pobres-- e o novo papa -- que faz a própria comida e, em Buenos Aires, usa o transporte público. "Ele pode fazer a opção [pelo nome] sem que seja uma injúria para o santo".