terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Há fórmulas para criar filhos?

Entrfevista Professor Cortella - Pais e Filhos



Com três filhos, um neto chegando e mais tantos agregados, Mario Sérgio Cortella gosta de família grande e casa cheia. “Muito movimento, muito choro, muita música, muita risada”, brinca. Para ele, reunir todos em volta de uma mesa, fazer comida juntos, escutar música, conviver, está na essência da família. Quando chegamos para entrevistá-lo, estava falando no rádio sobre as Olimpíadas. Em minutos, passou a falar de educação de filhos. Poderia ter falado também, com propriedade, sobre política, escola, culinária, gatos ou qualquer outro assunto. Nós, aprendemos sempre.

Não tem fórmula para criar os filhos, né?

Não tem regra. Filho não vem com manual de instrução, mas não é tão solto assim. Tem um mito nessa área de que não dá para programar. É claro que dá! Planejamento está no reino da ciência, adivinhação está no reino da magia. Embora cada indivíduo seja um indivíduo, não significa que não haja características comuns na humanidade. É possível aprender a educar pessoas.

Você se definiria como um pai de que tipo?
Algumas coisas eu trouxe da formação que meus pais me deram. Nem tudo o que vem do passado deve ser descartado. Algumas coisas tem que ser trazidas para o presente, guardadas, cultivadas. É o que a gente chama de tradicional. Muitas vezes se usa equivocadamente a palavra ‘tradição’.

Como se fosse ruim...
Isso. Tradicional é aquilo que preserva o antigo. O antigo não é o velho. Há alguns valores na formação familiar que são antigos: convivência, afetividade, ideia de gratidão, reverência à comunidade. O que é velho: o autoritarismo, a violência, o espancamento, o machismo, o cinismo na convivência. Por isso, dos meus pais, eu trouxe aquilo que eu entendo como tradição. A defesa da honestidade, a capacidade do amor exigente, isto é, “não é porque eu te amo que eu aceito qualquer coisa de você. É exatamente porque eu te amo que eu não aceito qualquer coisa de você.”

E aí entra uma coisa do amor paciente.
Sim, mas paciência não é lerdeza. Um amor paciente é aquilo que o Paulo Freire chamava de paciência pedagógica, histórica e afetiva. O que é a paciência histórica? As coisas têm o seu tempo. Não adianta eu falar com um menino de 7 anos sobre o exercício do sexo. Eu posso falar com ele sobre sexualidade. Há situações que uma criança não compreende.

Histórica no sentido da idade da criança.
Histórica de tempo, de maturação, de faixa etária. A segunda paciência é a pedagógica. As pessoas não aprendem do mesmo modo nem ao mesmo tempo.

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