“É importante compreender que liderar é
uma atitude. Vai muito além da mera chefia”
Assunto: RH
Mario Sergio Cortella
Em entrevista exclusiva ao Assunto:RH, o filósofo Mario Sergio Cortella,
um dos grande nomes da educação corporativa no Brasil – e palestrante de
destaque da 17° Comrh, - fala sobre engajamento de pessoas, liderança e
inspiração, temas que serão abordado em sua palestra no congresso.
Assunto RH: Não existem fórmulas para situações
complexas, como engajar e reter pessoas. Entretanto, a oferta de boa
remuneração, desenvolvimento profissional e ambiente de trabalho saudável são
uma constante quando o tema é engajamento. Essa linha de raciocínio é correta?
MSC: Sim.
Bastante correta. Realmente não existem fórmulas, mas existem formas, várias
trilhas pelas quais se consegue engajamento. Três pontos são fundamentais.Em
primeiro lugar é importante traçar um objetivo, ‘para que fazemos isso?’. Logo
em seguida vem a necessidade de saber, de forma clara, qual o papel que cada um
exerce na organização. E o terceiro, e mais importante, é o reconhecimento (que
diz respeito também ao autoconhecimento, a se reconhecer, se ver).
Não estou falando apenas de
reconhecimento financeiro, mas de justeza, de partilha dos méritos, na
comemoração das conquistas e na capacidade de elevar o trabalho feito em grupo e
não apenas com base na capacidade de um única pessoa. É como dizia Guimarães
Rosa ‘É junto dos bão que a gente fica mió’.
ARH: Um empregado motivado é, necessariamente,
engajado? Quais são as diferenças?
MSC: Engajar
pode ser feito de maneira não voluntária, o que é diferente de motivação, que
parte de dentro da pessoa. É interessante fazer uma reflexão sobre a etimologia
da palavra ‘engajamento’, que tem também origem na área militar, faz referência
a alistamento nas forças armadas, a recrutamento (algo não voluntário, pode vir
de uma pressão), embora também o francês “engage” signifique “dar garantia”.
Então é possível fazer com
que pessoas se engagem voluntariamente? Sim, é muito possível. E é exatamente
isso que vou abordar em minha palestra no
Congresso Mineiro de Recursos Humanos, cujo título será: ‘Engajamento de
pessoas: é possível e urgente!’
ARH: As estatísticas apontam que o percentual de
profissionais engajados com suas atividades é muito baixo e a falta de uma
liderança efetiva é vista como um dos principais fatores que contribuem para
esse resultado. O senhor concorda? Por quê?
MSC:
Plenamente. Há uma ausência de inspiração por parte dos líderes. É importante
compreender que liderar é uma atitude e não um cargo, vai muito além da mera
chefia. Ele deve inspirar.Muitos, ao invés de inspirar, acabam por expirar sua
equipe, tiram o fôlego dos integrantes e não conseguem uma adesão plena dos
empregados. Empresas que se limitam a ter chefias, não terão fôlego no futuro.
ARH: O que seria necessário para reverter esse quadro?
MSC É
preciso autodesenvolvimento, formação de lideranças. Universidade corporativas
em parceria, por exemplo, com a Fundação Dom Cabral conseguem cumprir esse
papel e dão condições aos alunos de se inspirarem. A academia, de forma geral,
vem se preparando para isso, mas ainda está no começo, exploram mais as
ferramentas técnicas, que são importantes, porém não o suficiente. Trabalhara
humildade, a pró-atividade e o espírito de equipe é fundamental.
ARH Engajar pessoas é um termo que ficou bastante
popular nas redes sociais e várias empresas estão usando o Facebook e o
Linkedin, por exemplo, para que os empregados sejam “embaixadores” da marca.
Como fazer isso de forma responsável, ou seja, de modo que o empregado saiba
ser embaixador da marca de maneira consciente?
MSC: Ser
embaixador de uma causa está totalmente ligado à idéia de convicção, no lugar da pessoa dentro dessa
marca. Ela deve realmente crer nisso, caso contrário, dificilmente iria aderir
a esse espaço digital. Já empresas não devem confundir ética com cosmética
(mostrando idéias de fachada) Ao criar essa estratégia, a organização deve ter
a clara percepção da diferença entre o dito e o feito, é preciso ter
autenticidade.
ARH: De acordo com pesquisa recente da Aon Hewitt,
empresas que possuem um alto nível de engajamento entre seus funcionários são
78% mais produtivas e 48% mais rentáveis. Apesar desses dados, o senhor
acredita que hoje as empresas estão conscientes da importância de terem
trabalhadores engajados?
MSC: Algumas
empresas já aderiram essa idéia, mas outras não (apesar de acharem que sim).
Volto a sugerir a reflexão sobre a origem da palavra engajamento e acredito
que, apesar de ‘engajar’ remeter a pressão, as organizações têm condições de
gerar um engajamento sincero dos empregados.
E mais uma vez cito Guimarães
Rosa: ‘O sapo não pula por boniteza, mas por precisão’. É válido aqui usarmos a
mesma lógica nos alertas do cruzamento dos trens ‘pare, olhe e escute’.
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