14/03/2013-17h49
Especialista espera maior representatividade latina na Igreja Católica
GABRIELA BAZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Primeiro latino-americano a ocupar o cargo mais
alto da Igreja Católica, Bergoglio, segundo o filósofo Mario Sergio Cortella,
representa um "revigoramento da estrutura da igreja".
Cortella acredita que o agora papa Francisco vai
corrigir um "desvio histórico": a baixa representatividade dos
latino-americanos no Colégio dos Cardeais.
"Com todo respeito ao mundo italiano, é um
contrassenso que a Itália tenha 27 cardeais e o Brasil, 9. Não é problema de
disputa pelo poder, mas de representatividade."
O filósofo espera que o papa reinvente sua relação
com a América Latina "ou com lugares onde há maior número de católicos,
quebrando uma lógica eurocêntrica".
Segundo os especialistas ouvidos pela Folha,
a eleição de um latino-americano representa uma ruptura do padrão europeu
predominante na Santa Sé.
De acordo com o padre José Oscar Beozzo,
coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular,
a eleição de Bergoglio é também "o reconhecimento de que a geopolítica e a
geografia do catolicismo mudaram".
"Há um reconhecimento que, independente de
como vai se desenvolver, marca uma escolha por 'deseuropeizar' o
catolicismo."
Para Beozzo, a eleição do papa Francisco é uma
virada histórica. "Isso já estava atravessado na garganta de todo mundo,
ainda mais com a opção de Bento 16 em focar investimentos na Europa".
CARREIRA
Cortella também aponta para o fato de que Bergoglio
não fez uma carreira interna no Vaticano e, portanto, "não está atrelado
às estruturas e aos compromissos internos como gestão, atividades financeiras e
bancárias".
Eventuais dificuldades que o novo papa poderá
enfrentar por não ter construído sua carreira na Santa Sé, segundo Cortella,
poderão ser contornadas com a escolha do novo Secretário de Estado.
"O fato de o novo papa ser latino-americano
não significa que ele não possa escolher um europeu como Secretário. Qualquer
um teria essa dificuldade. João Paulo 2º também não tinha tanta presença no
Vaticano e, se há um papa que soube lidar a dominar a condição do Vaticano, foi
o João Paulo 2º".
INEDITISMO
O papa eleito nesta quarta vai se chamar Francisco,
nome até então nunca adotado por um pontífice. Para Cortella, a escolha do nome
do novo papa traz consigo uma "mensagem simbólica muito forte".
Segundo Beozzo, a escolha do nome representa uma
posição mais "radical" e em favor dos mais pobres e fez com que o
novo papa "ganhasse a Itália" -- São Francisco de Assis é um dos
padroeiros do país.
Beozzo também aponta semelhanças entre o santo
--que se dedicou aos pobres-- e o novo papa -- que faz a própria comida e, em
Buenos Aires, usa o transporte público. "Ele pode fazer a opção [pelo
nome] sem que seja uma injúria para o santo".